Várias análises podem ser encontradas nas redes sociais relativas ao tema dos investimentos ESG. Das já famosas Cartas ao CEO, de Larry Fink (BlackRock), à crítica contundente de Tariq Fancy em seu longo ensaio “The Secret Diary of a Sustainable Investor”, passando pela política de investimentos perpetrada pela própria BlackRock e pela crítica de Clara Miller à Tariq em seu pertinente ESG The Fancy-ful Narrative.
Sem dúvida, o debate é de extrema relevância, sobretudo porque, embora pareçam antagônicos, todos têm um mesmo objetivo: alertar para o uso do tema como uma simples ferramenta propulsora do greenwashing e afins.
Há, de fato, empresas que ainda preferem saber quanto vai custar para que tenham os devidos certificados, sem maiores preocupações com as políticas de longo prazo. Não importa se estas políticas são de preservação do planeta ou ainda de inclusão e diminuição das desigualdades sociais. Querem o comércio ESG o marketing do “sustentável”.
Neste compilar de bons textos que valem a leitura, Kenneth Puker, da Tufts University (Fletcher School) em recentíssimo texto já traduzido e publicado na Capital Reset (Fantasia ESG de trilhões de dólares) elenca fases ou os atos, como prefere chamar, de uma peça teatral, que são extremamente pertinentes para que a gente possa entender onde estamos e os esforços necessários para que finalmente se alcance o almejado 5º ato.
Segundo Puker, no 1º Ato: “as empresas acordam para sua responsabilidade em relação aos crescentes desafios sociais e ambientais”; no 2º Ato: “a academia cria pesquisas ao redor do tópico”; no 3º Ato (que seria o ato que ele acredita estarmos vivendo): “agências de rating, provedores de índices, empresas de dados, consultores e outras instituições financeiras correm para criar produtos ESG, destacando a oportunidade para empresas e investidores entregarem boa performance financeira e impacto social e ambiental. É o ganha-ganha definitivo”.
A partir daí seguiríamos para um momento mais pessimista descrito como o 4º Ato quando: “investidores e outros atores lentamente reconhecem que o investimento ESG, como praticado hoje, provavelmente não vai levar a melhor performance financeira e, na maior parte das vezes, não leva em consideração o impacto planetário”. Com a ação cidadã e por meio de políticas governamentais alcançaremos o 5º ato quando estaremos diante de: “um novo despertar para as oportunidades e limites do investimento como forma de resolver os desafios sociais e ambientais”.
O ponto que queria ressaltar é justamente o que diz respeito ao necessário envolvimento das políticas governamentais para que de fato se dê andamento e alcance aos programas de ESG. Em nenhum momento quero desmerecer os esforços das corporações e dos particulares, pelo contrário, é preciso, enaltecer, reconhecer e sobretudo fomentar sua continuidade. Entendo que o encontro entre público e privado pode se dar na área tributária, mudando-se o paradigma da relação tributária, que deve deixar de ser o de inimizade, para que o trabalho conjunto possa ser feito e os resultados possam de fato chegar onde são efetivamente necessários – onde de fato fazem a diferença.
Texto: Alessandra Dabul
Edição: Luiza Guimarães