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The Devil’s Advocate on the Board

No complexo cenário da governança corporativa, o papel de um advogado do diabo (Devil’s Advocate) no conselho tem sido objeto de discussão. Muitas vezes percebidos como uma força disruptiva, essas vozes contrárias podem desempenhar um papel crucial ao questionar pressupostos, examinar decisões e garantir uma exploração completa das opções. A presença de um advogado do diabo torna-se especialmente recomendada em tempos de crise e situações de alta pressão. O estresse pode prejudicar o julgamento dos tomadores de decisão, tornando-os mais propensos ao erro.

Em outubro de 1962, durante o episódio que veio a ser conhecido como a “crise dos mísseis de Cuba”, o Presidente Kennedy pediu ao seu irmão, o Procurador-Geral Robert Kennedy, para que assumisse o papel de “advogado do diabo” durante todo o processo de tomada de decisão do Comitê de Crise (ExComm The Executive Committee of the National Security Council) instalado pelo Presidente (GENOVESE, 1986, 300-309). O objetivo era garantir que fossem exploradas plenamente as opções, testassem os seus pressupostos e se envolvessem num rigoroso processo de tomada de decisão.

Em que pese possa parecer algo nocivo à dinâmica do Conselho de Administração, a presença de um advogado do diabo pode ser uma experiência construtiva para o processo de tomada de decisões. Ao reconhecer a importância das vozes discordantes, a organização passa a gozar de uma maior segurança em relação às decisões tomadas pelo colegiado.

Ao serem submetidas a uma análise crítica, as propostas são refinadas e aprimoradas, resultando em escolhas mais sólidas e eficazes. Ao apresentar argumentos contrários, o advogado do diabo promove a discussão e a análise aprofundada. Esse processo leva a uma compreensão mais completa das questões em pauta, evitando-se possíveis consequências não intencionais de uma decisão, e resultando em uma tomada de decisão mais informada.

Ademais, O advogado do diabo desempenha o papel crucial de impedir que o Conselho caia na armadilha da conformidade grupal, garantindo que diversas perspectivas sejam consideradas. O pensamento de grupo é o fenômeno em que os membros do grupo tendem a buscar harmonia e evitar conflitos, muitas vezes resultando em decisões precipitadas ou falhas em considerar perspectivas alternativas.

Neste sentido, o advogado do diabo atua como um contraponto a essa conformidade grupal, incentivando a expressão de opiniões divergentes e questionando o consenso apressado.

O pensamento de grupo pode, ainda, inibir a expressão de ideias inovadoras, pois as pessoas podem hesitar em se desviar do consenso estabelecido. O advogado do diabo, ao desafiar as ideias convencionais, cria um ambiente propício à inovação, incentivando a consideração de abordagens não convencionais e soluções criativas. Ao desafiar o status quo, o advogado do diabo tende a inspirar soluções alternativas e estratégias mais inovadoras.

Existe uma diferença, claro, entre nomear um advogado do diabo para participar na discussão de um assunto específico e ter um conselheiro simplesmente “do contra”, que torna as suas reuniões mais difíceis.

Caberá, então, ao presidente do Conselho, administrar esses indivíduos para extrair o melhor de cada um e neutralizá-los quando necessário. Reconhecer sua expertise percebida e o valor de suas perspectivas sem necessariamente concordar é um equilíbrio delicado. É importante que o presidente do Conselho mantenha um envolvimento proativo com os advogados do diabo, de modo a antecipar desafios potenciais e canalizar sua energia de maneira construtiva para apoiar determinadas ideias. Essa abordagem visa transformar possíveis interrupções em catalisadores para o progresso.

O advogado do diabo no Conselho emerge, portanto, como uma oportunidade benéfica de aprimoramento do processo decisório, e com desafios potenciais. Por outro lado, um conselho bem estruturado e diversificado pode mitigar inerentemente a necessidade de se designar um advogado do diabo “oficial”. Quando o conselho é composto por membros diversos em termos de experiências, perspectivas, habilidades e origens, naturalmente emerge um ambiente propício ao questionamento construtivo, à análise crítica e à busca por alternativas.

*Artigo por: Maxwell Lima Dias
*Editado por: Luiza Guimarães

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